
Por Ramaputra das
Sacerdote, Empresário e Escritor.
Residente na Comunidade Nova Gokula.
No próximo dia 3 de setembro de 2022, comemoraremos o dia transcendental da aparição da Deusa Dourada, Radharani. Um de nossos mestres Chandramuka Swami escreveu sobre Radharani num livro cujo título sugestivo diz: “Quem é essa mocinha que está com Krishna?” Ela é Srimati Radharani a amada de Krishna que na intimidade com carinho se dirige a Ela como Radhika que significa Radhinha ou Radharanizinha.
Na maioria absoluta das tradições religiosas ocidentais é costume apresentar a figura de um Deus com atributos especificamente masculino. Em contraponto, observamos movimentos neo-pagãos cultuando a Deusa Mãe protetora, a Deusa da fertilidade. Eles reivindicam o retorno das antigas tradições que foram excluídas pela mentalidade “machista” religiosa patriarcal dominante no mundo Ocidental.
Historicamente nas doutrinas das escolas de Bhakti até o advento de Sua Santidade Śrīpāda Lakṣmīpati Tīrtha, mestre inserido na sucessão discipular de Madhvācārya, a adoração nos templos acontecia somente com o Senhor Kṛṣṇa no centro do altar sem Srimati Radharani. Depois, com o advento de Śrīla Mādhavendra Purī, a adoração de Rādhārani e Kṛṣṇa acontece com estabilidade e compreensão mais profunda de Bhakti. Assim, Śrīla Mādhavendra Purī é aceito como a raiz da adoração no amor extático a Deus. Por isso, é dito que um devoto deve estar conectado na sucessão discipular de Mādhavendra Purī para que haja possibilidade de despertar os sintomas mais profundos do amor extático por Deus com o requinte da rasa conjulgal. Podemos entender que o cenário para o aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu estava sendo organizado já que Madhavendra Puri foi o mestre espiritual do mestre de Caitanya chamado Isvara puri.
Estes renomados mestres deixaram o legado de Bhakti embasados na literatura védica que descreve Krishna como “purusha” o macho original, a pessoa Suprema possuidor de múltiplas energias que atua segundo Sua vontade. Desta maneira, os Bhakti Yogis nunca veneram Krishna sozinho porque filosoficamente Ele deve ser aceito juntamente com Suas energias. Assim como na etiqueta de respeito ao monarca deve conter primeiro o respeito à rainha, todo seu grupo de ministros e servos, da mesma forma, ao adorar Krishna nunca podemos esquecer de nos dirigir primeiramente ás suas energias.
Krishna é “shaktimam” o possuidor de todas energias. Existem energias superiores que manifestam o mundo espiritual “Antaranga shakti”, energias inferiores “Bahiranga shakti” que manifesta a matéria e “Tatastha shakti” ou energias marginais que somos nós, os seres vivos sujeitos a influência da energia superior ou inferior. No mundo espiritual “antaranga shakti”, existem ainda três energias que potencializam o prazer espiritual conhecidos como, “hladini”, ou potência de prazer, a “sandhini”, ou potência existencial, e a “samvit”, ou potência cognitiva. Especificamente a energia ou potência espiritual de prazer interno é conhecida como Srimati Radharani (hladini-shakti). É essa energia que nasce de Radha, que alimenta Krishna e seus devotos com bem-aventurança nos passatempos ou brincadeiras eternas de Vrindavana, a terra sagrada onde Krishna e Radha apareceram.
Sri Radhika é a personificação do amor e do prazer de Deus. Todo o amor puro e êxtase espiritual que as entidades vivas puras e Krishna desfrutam têm a forma de Radharani como fonte última. Quando a pessoa suprema e as almas puras desejam desfrutar e sentir prazer, como Ele é a transcendência Absoluta e as almas puras são suas partes integrantes, não existe a cogitação de Ele ou as almas buscarem felicidade em algo inferior e mundano. Assim, Krishna expande de Si mesmo uma forma para tal propósito. Krishna expande de Seu próprio eu uma forma capaz de suprir prazer ilimitado para Ele que é o desfrutador supremo e ilimitado e todas almas puras. Isto é confirmado no livro Sri Krishna-samhita, Capítulo 2: “Quando a potência espiritual da energia superior interage com o aspecto hladini, ele cria fixação até o estado de Mahabhava (amor puro), no qual ela (hladini) concede o êxtase superior.
Essa hladini é Sri Radhika. Ela é a energia do energético, possui os sentimentos amorosos mais elevados e é a metade da forma do Senhor Supremo. Ela Se expande em indescritíveis formas de Krishna de inconcebível felicidade. Radha dá prazer a Krishna. Ela é a personificação de Mahabhava. Há oito variedades de emoções que nutrem o rasa de hladini. Elas são conhecidas como as oito sakhis de Radha. Pela associação com devotos e a misericórdia do Senhor, a energia hladini das entidades vivas realiza uma pequena parte da hladini espiritual. Em seguida, as entidades vivas tornam-se eternamente felizes e atingem o estágio de sentimentos eternos e puros, permanecendo entidades individuais”.
A Bhagavad Gita declara que o serviço devocional ou Bhakti é a única forma de eliminar as influencias dos Gunas (amarras materiais na forma da bondade, passionalidade e obscuridade) e atrair o próprio Krishna. Krishna é o todo atrativo porque atrai todo universo, mas Bhakti ou serviço devocional atrai o próprio Krishna. O símbolo do serviço devocional ou Bhakti no mais alto nível é Radharani. Krishna é chamado Madana-mohana, que significa que Ele é tão atrativo que pode derrotar a atração de milhares de Cupidos ou deuses do amor. Mas Radharani é ainda mais atrativa, pois é capaz de atrair até mesmo Krishna. Por isso, os devotos chamam-nA de Madana-mohana-mohani, “Aquela que atrai Aquele que atrai o Cupido”. (PRABHUPADA, 2012, p. 59)
Sendo Radharani a rainha de toda auspiciosidade e de todo amor, como seria esse amor na prática? Como seria a profundidade do amor de Srimati Radharani? Krishna sendo onisciente poderia responder estas questões, porém, nem mesmo Ele conseguiu desvendar os sentimentos mais profundos de Srimati Radharani e Seu amor inigualável. Na verdade, no primeiro momento parece ilógico dizer que Deus ou Krishna sendo onipresente e onisciente não compreende algo. Ele compreende sim o amor de Radha, porém este amor está sempre se expandindo e por isso no mesmo instante que Krishna compreende, este amor já se expandiu e não é mais o mesmo. Por isso, Krishna vem a este mundo a fim de experimentar este amor sob a forma de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Esta é a razão mais confidencial do aparecimento do Avatara desta era. É Krishna combinado com o humor de Radharani personificados como Caitanya Mahaprabhu que nos últimos anos de sua vida, manifestou todos os sintomas de amor transcendental.
Srimati Radharani é a deusa de todo amor e devoção e mais ainda, Ela também está na mesma categoria da divindade suprema; portanto, quando falamos Deus, ou o conceito mais íntimo e profundo de Verdade Absoluta dentro dos Vedas, referimo-nos a Sri Sri Radha e Krishna, energia e energético, masculino e feminino.
Referências Bibliográficas
Site: Volta ao Supremo. Maha Krishna Nama Dasa: “Srimati Radharani, Gênero, Divindade e Amor na Forma da Deusa Dourada”.
A.C. Bhaktivedanta Swami. O Bhagavad-gita Como Ele É; edição completa com texto original em sânscrito, a transliteração latina e significados. Tradução e revisão de Enéas Guerreiro, Jenny Penteado Roberts e André Seródio. Bhaktivedanta Book Trust: São Paulo, 2006.
______. O Néctar da Devoção: a ciência completa da bhakti-yoga, um estudo resumido do Bhakti-rasamrta-sindhu de Srila Rupa Gosvami. São Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 2010.
______. Sri Chaitanya Charitamrita: com o texto bengali original e sua transliteração latina, os equivalentes em português. Tradução Paravyoma Dasa, Mahakala Dasa, Angira Muni Dasa. São Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 1984.
______. Srimad-Bhagavatam. Com texto original em sânscrito, sua transliteração latina, sinônimos, tradução e significados. São Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 1995.
BHAKTIVINODA, Thakura. Jaiva Dharma: a Ciência da Alma. São Paulo: Ed. Gouranga Publicações, 2010.
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